Gestão Ativa vs. Passiva: Por Que o Jogo é Diferente na Renda Fixa?

Sempre que conversamos sobre investimentos em ações, uma das estratégias mais defendidas é a gestão passiva. Estudos clássicos, como o relatório SPIVA da S&P, mostram que, na maioria das vezes, fundos que tentam "vencer o mercado" acabam perdendo para seus benchmarks, como o S&P 500. A lógica é simples: o mercado de ações é muito eficiente e, no longo prazo, é extremamente difícil superá-lo consistentemente.

Mas e se eu te dissesse que no universo da renda fixa a história é outra?

Esta semana, me deparei com um relatório da Morningstar que trouxe uma perspectiva interessante: no mercado de títulos (bonds), a gestão ativa não só faz sentido, como historicamente supera a gestão passiva. Isso mesmo, gestores que escolhem ativamente os títulos tendem a ter um desempenho melhor do que aqueles que apenas replicam um índice.

Mas por que essa diferença tão grande? A resposta está na própria natureza do mercado de títulos.

O Terreno Fértil da Gestão Ativa em Títulos

Ao contrário do mercado de ações, o mercado de bonds é um ambiente muito mais complexo e, por incrível que pareça, menos eficiente. E são justamente essas "ineficiências" que criam as oportunidades para um gestor experiente.

Vamos detalhar os principais motivos:

  • Complexidade e Estrutura: O mercado de títulos é gigantesco e heterogêneo. Existem milhões de títulos diferentes no mundo, cada um com suas próprias regras de vencimento, cupom, garantias e cláusulas. Diferente das ações, que são padronizadas e negociadas em bolsa, muitos títulos são negociados com pouca frequência, tornando a formação de preços menos eficiente.

  • A Falha dos Índices de Renda Fixa: Aqui está um ponto contraintuitivo. Em um índice de ações, o peso de uma empresa aumenta conforme ela cresce e se torna mais bem-sucedida. Em um índice de renda fixa, o peso de um emissor é medido pelo seu nível de endividamento. Ou seja, ao comprar um fundo passivo, você está, em essência, emprestando mais dinheiro para as empresas ou governos mais endividados, o que nem sempre é a melhor estratégia.

  • Cobertura Limitada: Os principais índices de renda fixa não cobrem todo o mercado. Estima-se que os índices mais amplos dos EUA cubram apenas entre 50% e 70% do mercado total de títulos. Isso cria verdadeiros "desertos de índices", áreas cheias de oportunidades que apenas um gestor ativo consegue explorar.

  • Distorções da Economia Real: Políticas governamentais e crises podem distorcer massivamente o mercado de títulos. Um gestor ativo pode se desviar de riscos iminentes, como a crise da dívida grega em 2011, ou se ajustar a mudanças drásticas, como as políticas de flexibilização quantitativa (QE) do Federal Reserve, que alteraram profundamente o perfil de risco do mercado hipotecário americano.

Os Números Comprovam

A teoria é interessante, mas os dados a confirmam. O estudo da Morningstar revelou que:

  • O fundo médio de ações de grandes empresas gerido ativamente superou o S&P 500 em apenas 17,6% dos períodos de três anos nas últimas duas décadas.

  • Já o fundo médio de títulos de médio prazo gerido ativamente superou seu benchmark (Bloomberg US Aggregate Bond Index) em 59% desses mesmos períodos.

A diferença é grande

e mostra que, enquanto a lógica de "comprar o mercado" funciona bem para ações, a complexidade e as ineficiências do mercado de títulos abrem um espaço valioso para a expertise de uma gestão ativa.

Seria fascinante ver um estudo aprofundado sobre o nosso mercado brasileiro. Temos um mercado de renda fixa muito desenvolvido e que certamente traria insights valiosos sobre essa dinâmica.

E você, qual a sua opinião sobre isso? Acredita que a gestão ativa também leva vantagem na renda fixa aqui no Brasil?

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