O Brasil em uma Encruzilhada Global: Entre a Ameaça de Trump e a Diplomacia Teatral
Nesta segunda, participei do evento Warren Day, onde tive a oportunidade de assistir ótimos painéis com o diretor do Bacen, grandes gestores, participantes do mercado e políticos, entre eles o mais esperado do dia, Tarcísio de Freitas.
Lembro-me de uma época no mercado financeiro em que as discussões sobre geopolítica pareciam distantes, quase teóricas. Hoje, a realidade é outra, o cenário global se tornou o foco, sendo um campo minado de incertezas.
A interação entre a política comercial dos EUA, com o estilo Donald Trump de negociar, e a postura da diplomacia brasileira é um quebra-cabeça complexo. Para nós, profissionais do mercado, decifrar essas peças é fundamental para avaliar riscos e encontrar oportunidades.
O Tarifaço de Trump: Uma Bomba Relógio para a Economia
Uma das maiores preocupações é a política comercial que ficou conhecida como "Tarifaço". Tarcísio de Freitas, Governador de São Paulo, foi direto ao ponto: essa abordagem é um veneno para a economia.
Por que? Simples:
Prejudica a produtividade: As empresas perdem o incentivo para investir em eficiência.
Gera dependência do Estado: Sem competitividade, as companhias se tornam reféns de subsídios.
Reduz a atividade econômica: Bruno Cordeiro, da Kapitalo Investimentos, descreve o "Tarifaço" como um "grande imposto". Ele explica que, com o custo dividido entre os EUA e o resto do mundo, o resultado é uma atividade econômica mais baixa (o lado positivo é que isso abre espaço para cortes de juros em diversas economias).
Rogério Xavier, da SPX Capital, adiciona uma camada de alerta: o impacto total ainda não foi sentido. As empresas americanas estão absorvendo os custos, o que pode espremer as margens no futuro e, consequentemente, afetar os lucros e o emprego.
O Jogo da Chantagem e o Fim das Regras
O que torna o cenário ainda mais perigoso é o método. Sérgio Fausto, da Fundação FHC, o define sem rodeios: "ameaça e chantagem".
Ao abandonar as regras globais que existem desde a Segunda Guerra Mundial, Trump cria um ambiente de total imprevisibilidade. Para potências médias como o Brasil, que sempre se beneficiaram do multilateralismo, o cenário é "muito adverso".
Ficamos expostos a "ventos tempestuosos" justamente quando parecemos sem um plano de voo claro, divididos internamente.
A Teatralidade Brasileira que Custa Caro
E é aqui que nossa própria postura entra em jogo. Enquanto uma parte do governo, com Geraldo Alckmin e Mauro Vieira, adota uma frente pragmática, Tarcísio aponta que "o presidente Lula faz aquele teatro... dos BRICS e da moeda", o que acaba prejudicando as negociações.
Sérgio Fausto concorda, classificando a retórica sobre a "prevalência do dólar" como uma "bobagem" que irrita o governo americano. Fazer "bravata na política internacional é um erro", especialmente quando se dilui o poder do Brasil em um BRICS expandido com "companhias pouco recomendáveis".
Rogério Xavier vai além, questionando se essa postura não afeta a percepção de segurança jurídica no país. Quando "exageros do Supremo Tribunal Federal" e medidas contra empresas como a Starlink levantam dúvidas sobre o "direito de propriedade", gritar sobre soberania não ajuda. Pelo contrário, pode impactar o crescimento e o emprego.
Navegando na Tempestade: O Caminho da Diplomacia Estratégica
Então, qual a saída? A resposta parece estar em uma diplomacia mais inteligente e menos performática. Tarcísio de Freitas sugere uma abordagem estratégica: entender o estilo de negociadores como Trump, que gostam de sentir que conquistaram uma vitória.
A solução é "entregar alguma vitória" para "colher a vitória", negociando a redução de tarifas em setores-chave para garantir nosso mercado e empregos. É hora de resgatar a tradição diplomática brasileira de "tirar o americano para dançar, tira o chinês para dançar e nunca pedir nenhum dos dois em casamento".
Precisamos urgentemente virar a chave. Discutir um projeto de país focado em inteligência artificial, transição energética e economia do conhecimento, para que o Brasil não fique para trás.
A nova ordem global não perdoa "teatros" ou falta de estratégia.
Como não temos o poder de controlar estas “soluções”, cabe a nós aproveitarmos as oportunidades que surgem com o cenário que se desenha:
Dólar mais fraco;
Juros brasileiros em 15% ao ano por mais tempo de acordo com o Bacen;
Tendência de juros em queda no mundo (médio prazo);
Busca por diversificação (interesse de buscar alternativas aos EUA)
Aumento de produtividade com novas tecnologias (IA).
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